Para sociólogo, impeachment não enfraquece esquerda no Brasil

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O processo de impeachment que continua em debate até domingo pela Câmara dos Deputados, atinge o governo do PT, mas não enfraquece a esquerda brasileira. A opinião é do sociólogo e professor de Ciência Política da Faculdade de Direito da Estácio do Ceará, Fernando de la Cuadra. Ele proferiu palestra hoje, em seminário promovido pelo Fórum 21, em Fortaleza.
– As forças sociais às vezes ganham eleições, mas ainda perdendo elas se mantêm como forças sociais. Um revés eleitoral não significa que se vai abdicar de toda essa força. Avanços em conquistas sociais não têm retorno e o Brasil está nesse processo. Pessoas que nunca conseguiram entrar na universidade e são os primeiros membros em gerações que conseguiram ingressar na universidade: isso não se vai reverter, é um processo que avança. A tendência é que o mundo da justiça social, da democracia e da liberdade vá primar.
Chileno e morando no Brasil há 10 anos, Cuadra analisa que o momento atual faz parte de um movimento de refluxo parecido com o vivido por outros países da América Latina, a exemplo da Argentina, que transcendeu do kirschnerismo para a direita com a eleição de Maurício Macri. No entanto, para ele, isso faz parte de um processo para que a esquerda siga avançando. “A história é pendular, não tem direção linear com ciclos que se fecham. Esses ciclos são abertos”
Para o professor, o desafio da esquerda brasileira é retomar o relacionamento com setores que defendem uma política progressista, que foram, aos poucos, sendo deixados de lado pelo PT depois que a sigla assumiu a Presidência da República. Para ele, isso significou um abandono dos princípios iniciais do partido e da prática de formar politicamente os cidadãos.
– Os partidos de esquerda, não só o PT, precisam recuperar essa relação virtuosa com os movimentos sociais e criar um momento de bloco histórico, pela transformação, que permitam somar pessoas que estão num projeto progressista, de igualdade e de justiça social – indica, acrescentando que essa reaproximação ocorre atualmente a partir das ameaças de impeachment.
A partir das informações sobre as indicações de votos na Câmara dos Deputados, Cuadra traça um cenário pessimista para um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
– Não sabemos se Temer ou Cunha ficam efetivamente no poder. Sabemos que Temer vai ficar, mas, pelo controle que tem sobre o parlamento, pode ser o Cunha e Temer virar um fantoche. Temer fala de um governo de unidade nacional, mas vejo um futuro cinzento.
O professor considera que, com a possibilidade do impeachment, o ideal seria a convocação de novas eleições.
Apesar de enxergar esse panorama, o professor ressalta que a esquerda no Brasil deve se reconstituir e se reinventar e aprofundar a democracia.
– O cenário não é como o do golpe de 1964. As forças vão recuar. É um golpe, mas a esquerda tem muita capacidade de se recuperar.
O Fórum 21 é formado por ativistas, militantes de partidos de esquerda e progressistas, organizações sociais e cidadãos e promove debates em várias cidades sobre temas ligados à conjuntura política, econômica e social do país.

Solidariedade entra na Justiça para impedir pronunciamento de Dilma nesta sexta
O Solidariedade entrou com ação na Justiça Federal para impedir a veiculação do pronunciamento de Dilma, previsto para a noite de hoje, em cadeia nacional de rádio e televisão. Prevista para as 20h20, a fala da presidente terá 8min30. Ela deverá reafirmar que não existe crime de responsabilidade que justifique seu afastamento do cargo.
A admissibilidade do processo de impeachment de Dilma está sendo discutida nesta sexta-feira na Câmara dos Deputados, e a votação deve ocorrer na tarde domingo.
Para o partido, há desvio de finalidade no uso do pronunciamento em rede nacional para rebater os argumentos favoráveis ao impeachment. “Caso nada seja feito para impedir a iminente disseminação de conteúdo durante a votação, como forma de convencimento desesperado da população, tudo indica que o resultado desse processo político-jurídico seja diretamente interferido pelas manobras político-administrativas questionadas”, sustenta o Solidariedade.
A ação foi distribuída para o juiz Rodrigo Parente Paiva Bentemuller, da 6ª Vara Federal em Curitiba.

MST protesta em Pernambuco – Sete trechos de rodovias de Pernambuco foram bloqueadas, hoje, por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O protesto marcou o posicionamento contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a ser votado na Câmara dos Deputados domingo. As manifestações também lembraram os 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA).
Os bloqueios começaram às 9h. A BR-232 foi ocupada em trechos dos municípios de Glória do Goitá, Pesqueira e Moreno. A BR-101 foi bloqueada em São Lourenço da Mata, região metropolitana do Recife. Além disso, em duas rodovias estaduais houve protestos: a PE-041, em Passira; e a PE-316, em Floresta e Petrolândia.
De acordo com Maria Gomes, da direção estadual do MST, um dos motivos para as manifestações é o posicionamento contra o impeachment.
– Não só o MST, mas a Frente Brasil Popular tem realizado várias ações de formação e diálogo com a sociedade em defesa de democracia, contra o golpe, e não poderia ser diferente esse dia porque está se aproximando a votação e achamos importante reafirmar nossa posição e continuar esse processo de luta – disse hoje.
Os bloqueios de rodovia também fazem parte de uma agenda pré-definida para o chamado Abril Vermelho, mês em que estão marcadas várias atividades do MST em defesa de pautas relacionadas ao meio rural.
– É em denúncia da paralisação da reforma agrária, do processo de criminalização dos movimentos sociais e de luta contra a perda de direitos adquiridos. Esse massacre já completa 20 anos e ninguém foi penalizado. Não houve justiça para os 19 companheiros assassinados brutalmente em 1996 – afirma, lembrando o protesto contra a impunidade no massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará.
Em outros anos, os atos lembrando o crime ocorreram no dia 17 de abril, data dos homicídios. Na ocasião, sem-terra que estavam acampados na região realizaram uma marcha em protesto contra a demora na desapropriação de terras e bloquearam a PA-150. Os assassinatos foram cometidos numa ação da Polícia Militar para desobstruir a estrada – a maioria das mortes teve característica de execução, inclusive com uso de arma branca.
Nos atos desta sexta-feira em Pernambuco, os trabalhadores sem-terra usaram pneus, madeira e fogo para impedir a passagem nos dois sentidos das rodovias, que começaram a ser desbloqueadas por iniciativa própria do movimento. A última a ser desimpedida foi a BR-232, por volta das 11h.
Outro protesto está marcado para às 16h, em Caruaru. O MST se junta a outras organizações do campo e entidades que compõem a Frente Brasil Popular para um ato contra o impeachment. No Recife, no mesmo horário, está prevista a montagem de acampamento contra o impeachment. Será na Praça do Derby, Zona Central da cidade. A previsão é manter a vigília até a votação do processo na Câmara, no domingo.

Com informações da Agência Brasil

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